20 de dezembro de 2011

O Paraíso

Vivemos no paraíso. Nada se passa, tudo tranquilo.

O ministro Relvas teve o azar de proferir hoje mais uma ideia luminosa.
Não que não seja luminosa. O azar ressalta na rasteira que lhe pregaram.
Disse o ministro Relvas, na comissão parlamentar que está trabalhando para estilhaçar a RTP: ”a privatização de um canal público de TV vai ao encontro de um maior pluralismo”.
Mesmo que no Paraíso isto pudesse alguma vez ser verdade, o pobre homem foi logo atropelado e, para mal dos seus pecados, viu esta ideia luminosa apagar-se num instante.
Vejamos: uma par de horas decorridas após esta afirmação, a Edição da Noite da Sic Notícias chama aos holofotes dois comentadores. Os nomes não interessam. O que interessa é ter-se anunciado um DEBATE, em rodapé, durante toda a hora antecedente. Um DEBATE sobre os 6 meses de governação do atual executivo e, ainda, um DEBATE sobre os temas mais quentes do momento.
Pois muito bem.
Primeiro tema – as declarações do primeiro-ministro sobre a emigração dos professores.
Comentador 1 (opina desta forma) – “essas declarações são normais, estamos em crise, nada de estranho em aconselhar os desempregados a procurar vida melhor emigrando, portanto, não percebo tanto alarido sobre as palavras do senhor primeiro-ministro”.
Comentador 2 (opina desta forma) – “essas declarações são normais, estamos em crise, nada de estranho em aconselhar os desempregados a procurar vida melhor emigrando, portanto, não percebo tanto alarido sobre as palavras do senhor primeiro-ministro”.
Segundo  tema – balanço das palavras do senhor ministro das Finanças sobre as contas públicas.
Comentador 1 (opina desta forma) – “está tudo bem, o governo não podia fazer melhor, as contas públicas estão no bom caminho e estamos a pagar anos e anos de calaceirice e de boa vida”.
Comentador 2 (opina desta forma) – “está tudo bem, o governo não podia fazer melhor, as contas públicas estão no bom caminho e estamos a pagar anos e anos de calaceirice e de boa vida”.

Eis o pluralismo que o ministro Relvas quer!


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